Associação dos Geógrafos Brasileiros - AGB Curitiba
Revista Paranaense de Geografia
Número 02 # ISNN - 1413 - 6155 # 1997
2ª Edição - julho/99
©Associação dos Geógrafos Brasileiros - seção Curitiba - Permitida a reprodução desde que citada a fonte.
NOTA DO AUTOR (a posteriori): Este foi meu primeiro Artigo publicado! A primeira edição saiu impressa, e a segunda no site e em CD (todas idênticas). Fiz uma Errata e uma Atualização deste Artigo alguns anos depois... Mas, como nunca as concluí minuciosamente, também não as publiquei...*
TEORIAS GEOGRÁFICAS
Sérgio Cesar de França Fuck Júnior
(Aluno de Graduação do Curso de Bacharelado em Geografia, pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Ex-aluno de Graduação do mesmo Curso, e do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, pela Universidade Federal do Paraná - UFPR; Sócio da A.G.B.-São Paulo). Fortaleza, Ceará. (1997)
Através do conhecimento científico geográfico, aliado à filosofia, faz-se neste ensaio
a tentativa de entendimento organizacional e ativo do universo e da Terra, nos
seus aspectos físicos, humanos e biológicos.
A Geografia é uma ciência de difícil definição, cujo objeto de estudo, o espaço
geográfico, é também multi-conceitual. A Geografia é realmente uma ciência? No
que se distingue de outras formas de conhecimento? Por que há dicotomia no seu
estudo?
A Geografia é uma Ciência Humana, dicotomizada no seu estudo - o estudo do espaço
geográfico - em dois ramos: o Humano ("social") e o Físico
("natural"). O homem faz parte da natureza (visão Holística), porém o
seu estudo é diferenciado em relação à esta, pois o ser humano é, ao mesmo
tempo, objeto e agente de transformações, atuando "dialeticamente", e
não "positivamente", neste mundo.
INTRODUÇÃO
O ser humano é uma forma de vida única em nosso planeta. Desenvolveu uma
inteligência superior às demais formas de vida aqui existentes, ao longo de sua
Evolução (1).
O objetivo de cada homem (2) em particular, e de todos os homens em geral, é a
preservação da vida humana, ou seja, de sua(s) própria(s) vida(s), tentando
garantir a maior longevidade possível (recordemo-nos da lenda medieval da
"fonte da juventude"... E também... O que é a crença na alma e na
reencarnação, senão a busca desesperada pela "vida eterna"?). Assim
sendo, procura garantir a integridade física e moral de seus semelhantes, pois
estaria, em última análise, "preservando" a si próprio. Dentre suas
atividades no planeta, estão as atividades "físicas básicas"
(alimentação ou nutrição, descanso - as verdadeiras "obrigações
biológicas" humanas, que garantem o metabolismo e a sobrevivência! -,
lazer: prática de esportes, passeios, entre outros - aproveitamento do seu
"tempo livre" (3) - locomoção, e "trabalho") e as
atividades "intelectuais", baseadas na consciência, que é a
capacidade da mente humana de pensar (raciocinar, indagar, arguir...), de
sentir (dores e emoções) e de agir (relações humanas ou "físicas",
segundo o seu próprio pensamento) (4).
Satisfeito com suas necessidades "físicas básicas", parte o homem em busca de
conforto, que lhe dará prazer, fruto de sua produção sobre a Terra. Para isto,
lança mão de suas "atividades intelectuais", o que o leva a criar
"ferramentas" para a transformação e aproveitamento de recursos
naturais e humanos. Nisto, passa a consumir também a produção de outros homens,
além de sua própria produção, e o mesmo ocorre com estes outros homens. Assim,
ao longo da história humana, várias formas de organização social efetivaram-se
a partir desta nova necessidade; em busca do conforto, o homem descoletivizou a
propriedade da terra - para melhor usufruir do seu uso -, criou a moeda - para
"trocar" pelos produtos que não fabricava -, instituiu normas sociais
de conduta, ética e moral, e de convivência com os outros homens (casamento,
igreja - por não suportar a idéia de "estar sozinho" no universo,
"cria" deuses e "vida eterna", desde os tempos mais
remotos... -, e demais "instituições sociais"), e desenvolveu
tecnologias de produção (5). Tanto em sociedades tribais, anarquistas,
"comunistas" (6), quanto em sociedades democráticas, as formas
sócio-políticas passam a ser dominadas pelas formas econômicas de produção (7).
No Socialismo, o Estado (8) passa a gerir e a administrar (planejando,
organizando, dirigindo e controlando) a produção - e, por conseguinte, a vida
social -, enquanto que no Capitalismo o Estado basicamente controla esta
produção, em níveis que vão do Liberalismo (não intervenção no Mercado) aos
controles mais rígidos governamentais.
AS FORMAS DE CONHECIMENTO HUMANO
Sabemos que a "realidade concreta" é classificada pelo homem em vários níveis
e de diversas formas, para o seu entendimento sobre o mundo, da maneira que lhe
pareça mais coerente, útil e aprazível, para atingir seus objetivos
específicos. Porém, esta mesma "realidade concreta" é, na verdade,
"indivisível e unitária", o que representa uma visão Holística do
universo. Partindo-se deste pressuposto, classificamos o conhecimento humano em
quatro ramos: senso comum, filosofia, arte e ciência (11). Nas Ciências, este
conhecimento é dividido em: naturais - da terra e biológicas -, exatas e
humanas, sendo a Geografia incluída nesta última.
ORIGEM E HISTÓRIA DA GEOGRAFIA, ENQUANTO CONHECIMENTO "COMUM" E ENQUANTO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
A Geografia era meramente descritiva, ou matemática, na Antiguidade. Egípcios,
gregos, romanos, fenícios, árabes, persas, chineses e aztecas, dentre outros
povos, desenvolviam um conhecimento geográfico "independente" e
diferenciado dos demais, de acordo com as suas próprias necessidades de
entendimento do mundo que os cercava. Descrições de viagens realizadas, de
povos e paisagens observadas nos locais percorridos, e teorizações e
experimentos diversos eram realizados por filósofos, físicos, comerciantes,
entre outros. O mesmo ocorreu durante a Idade Moderna, na qual os povos
ocidentais, que passavam a dominar cultural e economicamente as novas terras
por eles descobertas, esforçavam-se por tentar explicar o que viam.
Durante a Idade Média ("Idade das Trevas" (12)), todo o conhecimento
ocidental era gerado, concentrado e "distribuído" pela Igreja,
causando absurdos filosóficos que se vê até os nossos dias!
Estes períodos constituem a fase do conhecimento geográfico no "senso
comum", pois, até mesmo na Antiguidade Clássica, estavam dispersos dentre
outras formas de conhecimento, e dentre vários objetos de estudo distintos, não
sistematizados.
A Ciência Geográfica começa a surgir somente em fins do século XIX, em torno de
1870, quando os alemães Alexander von Humboldt e Karl Ritter, contemporâneos,
desenvolvem uma sistematização destes conhecimentos geográficos passados e
presentes, dando uma característica própria e exclusiva à Geografia, tentando a
unicidade Humanidade-Natureza, enquanto método de estudo da realidade. Seus
precurssores mais ilustres foram Bernard Varenius (séc. XVII) e Emmanuel Kant
(séc. XVIII).
Logo, surgiram outros ilustres geógrafos europeus, cada qual com suas teorias
científicas, como: Friedrich Ratzel, Haushofer (alemães), Paul Vidal de la
Blache, Elisée Reclus, Max Sorre, Emmanuel De Martonne (franceses), e, mais
recentemente, também cientistas americanos e europeus, como: Richard
Hartshorne, Pierre George, Yves Lacoste, Milton Santos, e outros.
A Geografia estava consolidada como Ciência, com objeto de estudo específico e
métodos de pesquisa e conhecimento apropriados.
A GEOGRAFIA É REALMENTE UMA CIÊNCIA?
CORRENTES FILOSÓFICAS E METODOLOGIAS CIENTÍFICAS NA GEOGRAFIA
Por definição, entende-se "ciência" como "a forma de conhecimento
humano sistematizada (organizada e ordenada, através de métodos minuciosos),
que tem um objeto de estudo (13) específico". Os conhecimentos de
"senso comum", filosofia e arte podem influenciar no conhecimento
científico, porém nunca podem ser determinantes acerca de conclusões sobre o
objeto que está sendo investigado pela ciência. Portanto, a Geografia é uma
Ciência, cujo objeto de estudo é o "espaço geográfico". O
"espaço geográfico" é, ainda, multi-conceitual, pois há várias linhas
de pensamento discordantes entre os geógrafos, neste e em outros aspectos. Os
dois conceitos principais são os seguintes: num deles, entende-se por
"espaço geográfico" aquele espaço "produzido" pelo homem,
em suas relações de produção, ou simplesmente aqueles espaços sobre a Terra
que, de alguma maneira, tenham sofrido a intervenção humana (14). No outro,
"espaço geográfico", ou simplesmente "espaço", seria o
próprio espaço da superfície terrestre, integralmente (defendemos este segundo
conceito). *(Na verdade, na Geografia atual, ambos são "unificados" pelo primeiro conceito!
Ou seja, o "espaço geográfico" só existe COM o Homem).
A Geografia teve e ainda tem, durante o seu desenvolvimento, alguns paradigmas
principais, que norteiam a produção científica dos geógrafos ao longo do tempo.
Partem dos métodos de interpretação da realidade de cada cientista. São eles:
Geografia Tradicional, Positivista, praticada sobretudo até meados deste século
- Determinismo e Possibilismo; Geografia Reegional, Positivista (anos 50) -
considerada como uma "fase de transição"; Geografia Teorética e
Quantitativa, ou "Nova Geografia", Neopositivista, dos anos 50 a 70
do corrente; Geografia Crítica, utilizando-se do Materialismo Histórico
Dialético, ou somente da Dialética, para entender e atuar socialmente no
cotidiano, surgida a partir dos anos 80; e finalmente, a Geografia Humanística,
baseada no homem e em seus aspectos psicológicos, representada por correntes
como o Existencialismo e a Fenomenologia, a partir dos anos 80 - não é
considerada ainda um paradigma "completo". Há outras correntes
filosóficas envolvidas no trabalho geográfico (e científico, em geral), sendo
que a exclusividade de abordagens e de métodos utilizados não é possível, pela
própria natureza humana (16).
Os métodos de pesquisa podem ser: a Dedução (abordagem do geral para o
particular), a Indução (do particular para o geral), a Indução-Dedução, a
própria Dialética e outros, podendo ser combinados ou não.
A IMPORTÂNCIA DA DEFINIÇÃO TEÓRICA À PRÁTICA GEOGRÁFICA
Deste modo, havendo discordâncias "normais" na Geografia, como em qualquer
outro ramo de atividade humana, torna-se importante uma definição sobre a
própria ciência. Ou seja: o que é Geografia? Qual a sua importância? Para que
serve? É um conhecimento relevante para a sociedade e para a própria ciência do
homem?
A Geografia, pensamos nós, é o estudo do espaço geográfico (conforme o segundo
conceito já abordado, neste*). Este estudo refere-se aos aspectos físicos, como
forma (cidades, vulcões, mares...), ambiente - vida e movimentos, localização
(pensamos ser este o principal diferencial da Geografia com relação às
"ciências-irmãs"), e aos aspectos humanos, que seriam as relações da
Humanidade com a Natureza, e as relações entre os homens, em sociedade (17).
Destes aspectos humanos resultam outras ciências, utilizadas em parte pelos
geógrafos, como a Economia, a Sociologia, a Antropologia (Cultural e Física),
entre outras. As ciências que abordam os aspectos físicos do universo só tem
relação com a Geografia enquanto parte do entendimento humano, em sua localização
no espaço ("geográfico" e "sideral"), e nos recursos à vida
humana que podem propiciar (atendendo às suas "necessidades físicas
básicas" e ao seu conforto, material e psicológico).
Sua abrangência é, portanto, vasta, mas o seu objetivo é o de propiciar bem-estar
aos homens, quer por meios de "conhecimento acadêmico puro"
("conhecer o mundo é libertar-se, estar alerta!" - cidadania - é uma
forma de transcendência psicológica), quer por meios de "educação para a
vida em sociedade" (não coercitiva, sequer punitiva - "ensinar a
viver" em paz, com amor e alegria - ética, moral), quer por meios de atuações
políticas efetivas.
A DICOTOMIA NA GEOGRAFIA: GEOGRAFIA FÍSICA/HUMANA; GEOGRAFIA GERAL/REGIONAL; OUTRAS ABORDAGENS
Um problema básico conceitual que acompanha a Ciência Geográfica desde o seu
nascimento é a dicotomia existente entre os aspectos físicos e os aspectos
humanos do espaço geográfico. Embora muito já se tenha tentado, esta dicotomia
não foi satisfatoriamente ainda desfeita, ficando mesmo estas tentativas apenas
no campo da teoria, não efetivando uma prática unicionista na Geografia.
Para os geógrafos "clássicos", como Richard Hartshorne, a Geografia seria
uma ciência de síntese das relações homem/meio. Seria, ainda, de abordagem
regional, de diferenciação de áreas (corológica), não cabendo ao geógrafo
distinguir entre fatos físicos ou humanos (18).
Atualmente, considera-se a Geografia como uma "ciência de relações", buscando
integrar conhecimentos científicos de outras áreas, para o estudo de seu objeto
específico (e distinto), que é o espaço geográfico. Suas tendências temáticas
são: o "ambientalismo" - dos sistemas naturais, "a ciência dos
lugares" (embora influenciados pelo homem); e a "ciência social"
- a social-economia (o homem criando o espaço). Destas tendências temáticas,
retiram-se as abordagens físicas ou humanas do real.
Concordamos com o geógrafo brasileiro Vesentini, quando afirma que existe uma dicotomia
estrutural, que não é exclusiva da Geografia, separando-a em "física"
e "humana". Esta dicotomia se perpetuaria à medida em que as
especializações se aprofundassem. Em termos de sistemas econômico-sociais, a
clivagem "humanidade/natureza" permaneceria, no Capitalismo ou no
Comunismo, sendo que esta realidade é superior ao sistema de vida adotado pela
sociedade. Ainda, para este autor (Vesentini), a dicotomia Geografia Geral x
Geografia Regional não existiria, sendo esta última apenas uma abordagem
específica da primeira. Novamente, concordamos com este geógrafo.
TENTATIVAS DE UNICIDADE: VISÃO HOLÍSTICA; OUTRAS VISÕES
Com o amadurecimento do Capitalismo, no século XVIII, incrementado pela Revolução
Industrial européia, o homem passou a perceber a natureza como fonte de
recursos para a sua própria existência. Desenvolveu a técnica, para o melhor
aproveitamento possível destes recursos, buscando sempre o conforto, em última
análise. Porém, a consciência ecológica de que "a Terra é um organismo
vivo!", e como tal precisa ser preservada e conservada, na medida do
possível, só lhe foi despertada a partir da década de 80 deste nosso século! O
homem já explorou demasiadamente os recursos de seu planeta, de tal sorte que
mudou aspectos físicos "naturais", criando novos processos e
acelerando ou retardando outros já existentes. Com esta "crise
ecológica" que ele próprio criou, em nome do progresso, gerando um
desequilíbrio "Homem x Meio", surgiu a visão Holística do universo,
na qual "tudo é natureza!"; portanto, também fazemos parte deste
"tudo". A unicidade geográfica estaria na natureza física e humana se
recriando (19) - nas relações naturais contidas ou não nas relações de produção
(humanas) - e na natureza social se reproduzindo - através das relações de
produção.
Elisée Reclus, no início deste século, não distinguia aspectos físicos e humanos na
Geografia, pois o estudo da natureza teria por objetivo facilitar a compreensão
da evolução da humanidade. Seguia o pensamento marxista de sociedade de classes
sociais, de luta constante entre dominadores e dominados. Concordamos com seu
posicionamento, especialmente na afirmação de que há uma tendência ao
aperfeiçoamento individual e social em função do aperfeiçoamento do homem (a
tecnologia representa parte deste pensamento - desenvolvimento técnico; o
desenvolvimento pessoal e educacional, o "humanismo fraterno", seria
a outra parte). Discordamos do Racionalismo (20), em seu princípio de que o homem
é um ser dotado de "bondade", sendo a sociedade capaz de corrompê-lo.
O "REAL" SUPERA O "TEÓRICO": EMPIRISMO, EXISTENCIALISMO E PRÁTICA SOCIAL ATUANTE DO CIENTISTA GEÓGRAFO ("NÃO-NEUTRALIDADE")
No Empirismo (séc. XVII) - que teve uma pequena influência do Racionalismo, embora
antagônicos -, a mente humana seria "uma tábula rasa onde a experiência
escreve" (21). Ou seja, todo o conhecimento deve ser baseado na
comprovação, podendo mesmo esta ser de ordem apenas "racional" -
enquanto verdade incontestável -, ou por experimentações práticas. Seguimos
esta linha de raciocínio, com a ressalva "cética" de acreditarmos que
toda a verdade do universo dificilmente será apreendida pelo homem, pois não
conhecemos tudo, e deve haver coisas que sequer imaginamos existirem... (22).
O Humanismo, mais precisamente o Existencialismo, nos ensina que o homem é o ser
que, dotado de inteligência superior, pode designar os destinos de sua própria
existência, não dependendo da nada, pois nada é superior a ele. Ressalve-se
que, para nós, "o aspecto físico", o nosso planeta Terra, é o
condicionante para que a existência humana possa se efetivar. Portanto, podemos
sim definir nosso próprio futuro, desde que respeitadas as condições ambientais
que permitam a perpetuação de nossas vidas (e atos, e idéias!).
Partindo-se desses pressupostos, acreditamos que o geógrafo deva ser um cientista
"não-neutro", ao contrário do pensamento positivista, que prega uma
neutralidade científica, limitando-se o pesquisador à simples observação do
fato em questão.
QUAL O PAPEL DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA NO MUNDO ATUAL?
CAMPOS DE TRABALHO PARA O GEÓGRAFO - A NÃO "INFERIORIDADE" PERANTE OUTROS PROFISSIONAIS; ESPECIALIZAÇÕES
Então, o papel do geógrafo no mundo atual seria o da intervenção política nesta
realidade concreta cotidiana, por meios diversos, mas procurando exercer sua
influência de pensamento nos desígnios da vida social. Esta Geografia Crítica
permite a atuação do profissional na política, propriamente, pois entendemos
que um "cientista humano", como o geógrafo, tem amplas possibilidades
de efetivar o seu conhecimento social e ambiental para a realização de
benefícios à toda a sociedade.
Além da política, os campos de trabalho que se apresentam a este profissional são o
do ensino (23), e o da técnica, como bacharél. Porém, apesar de sua visão
globalizante acerca dos acontecimentos do mundo, o geógrafo deve se
especializar em determinada área, enquanto bacharél, para ter uma atuação
condizente com as expectativas do mercado de trabalho (e com as necessidades da
sociedade). O que se vê hoje é a ocupação, por engenheiros, agrônomos,
ecólogos, geólogos e outros, de áreas e funções que poderiam ser essencialmente
desempenhadas por geógrafos.
CONCLUSÃO
A questão central da Geografia é esta: "Por que é que as distribuições
espaciais estão estruturadas da maneira como estão?".
Com o conhecimento histórico das teorias geográficas, podemos perceber como o homem
entende o seu universo de diversas maneiras distintas, de acordo com suas
concepções pessoais (e suas próprias condições para tal), no transcorrer da
história da humanidade. Aplicando-se a estes conhecimentos adquiridos novos
conhecimentos, pode-se tentar facilitar a vida humana, em termos de convívio
social, buscando a felicidade de cada um, individualmente. Por isso, entendemos
ser a Geografia uma Ciência Humana, dicotomizada no seu estudo - o estudo do
espaço geográfico - em dois ramos: o Humano ("social") e o Físico
("natural"). O homem faz parte da natureza (visão holística), porém o
seu estudo é diferenciado em relação à esta, pois o ser humano é, ao mesmo
tempo, objeto e agente de transformações, atuando "dialeticamente", e
não "positivamente", neste mundo. Ou seja, utilizamos métodos de
apreensão da realidade distintos - dialética para o estudo da humanidade;
sistemas e outros para o estudo da natureza (24) -, mas jamais podemos
fracionar o "todo real". Embora a realidade concreta seja
inexpugnável, o homem a sistematiza para que a mesma possa ser por ele
analisada. Então, a observação, a percepção, a análise e a crítica à esta
realidade são também funções da ciência, além de outros campos do conhecimento.
O conhecimento geográfico é sinônimo de conhecimento do mundo, do planeta Terra,
de suas intrínsecas relações siderais, terrenas e biológicas, sendo o ser
humano o agente alvo desse conhecimento, enquanto parte da biosfera, atuando
com relação aos outros homens e ao seu ambiente físico de vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SILVA, Lenyra Rique da. A NATUREZA CONTRADITÓRIA DO ESPAÇO GEOGRÁFICO. São Paulo, Ed. Contexto, 1994.
SODRÉ, Nélson Werneck. INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA (GEOGRAFIA E IDEOLOGIA). Petrópolis-RJ, Ed. Vozes, 1976.
VESENTINI, José William. GEOGRAFIA: NATUREZA E SOCIEDADE. São Paulo, Ed. Contexto, 1994.
ALMANAQUE ABRIL 96. São Paulo, Ed. Abril, 1996.
-
Evolução (Evolucionismo): Teoria desenvolvida por Spencer (séc.
XVIII), segundo a qual os seres vivos evoluiriam ao longo do tempo na
Terra, transformando-se para se adaptarem às condições ambientais, que se
alteram. "Origem das Espécies" e "Seleção Natural" são
decorrentes desta primeira teoria, desenvolvidas por Charles Darwin (séc.
XIX). O termo "evolução" pode também ser aplicado às questões
astronômicas, geológicas, etc.
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O termo "homem" será aqui designado para referir-se a
"ser humano".
GLOSSÁRIO
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Tempo livre é o tempo disponível ao homem, após o cumprimento de
suas necessidades básicas, como nutrição, descanso, lazer e trabalho.
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Segundo o sociólogo francês Émile Durkheim (séc. XIX), o ser humano
teria as capacidades básicas de agir, sentir e pensar, constituindo-se
este conjunto de atos coletivos um "fato social", que
determinaria a vida em sociedade de cada indivíduo, em particular. Foi o
"teórico das Instituições". (Uma visão Positivista (9) de
sociedade).
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Algumas das fases históricas ocidentais podem nos demonstrar isto
(Feudalismo, Mercantilismo, Capitalismo...).
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Sociedades nas quais a coletividade funcionaria como um organismo
único, "biológico", baseadas na fraternidade e cooperação mútuas.
Porém, como afirmou o "Iluminista" (12) Hobbes (séc. XVIII),
"O homem é lobo do homem!", e sempre haverá exploradores e
explorados (e "lutas de classes"), quer no Capitalismo, quer em
qualquer outra forma de organização social. O Comunismo e o Anarquismo,
portanto, são "utópicos" enquanto formas de vida do
"homem-social". Evidentemente que a visão de "sociedade
harmônica e unitária", apregoada pelo Capitalismo, também o é. Estas
visões Positivistas, em ambos os casos, representam as ideologias que cada
linha de pensamento tenta seguir e implementar no âmago das sociedades
(ocorrendo o mesmo com questões político-religiosas, entre outras).
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O sociólogo alemão Karl Marx (séc. XIX), que desenvolveu o
"Materialismo Histórico Dialético" (10), criticava os conflitos
gerados pelo Capitalismo recém-surgido na Europa, no qual a Economia
dominaria a Sociedade, através da propriedade privada dos meios de
produção, vislumbrando uma sociedade sem classes, e, portanto, sem
conflitos, onde as questões sociais seriam mais justamente resolvidas.
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Estado: instituição constituída e legitimada que representa um
determinado país.
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Positivismo: corrente de pensamento que entende a evolução humana
linearmente como: primitiva, teológica e científica, sendo esta última a
forma correta e ideal de postura do homem frente ao mundo. Conceitos como
"ordem e progresso" também são "positivistas", levando
à formas arbitrárias de "dominação" social. Normas e leis são
essenciais à vida em sociedade, porém a liberdade individual deve ser a
prioridade entre os homens.
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Materialismo Histórico Dialético: corrente filosófica que entende
as relações humanas como em constante renovação, através do dualismo
intrínseco em nossas atividades e pensamentos, o que nos levaria a
mudanças qualitativas e quantitativas, ao longo do tempo (Dialética), e
baseadas nas relações de produção humanas (Materialismo).
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Senso Comum: pensamentos do cotidiano, "populares", e
herdados dos antepassados; (também): bom-senso. Filosofia: reflexões sobre
as verdades e as finalidades primeiras das coisas, no universo. Arte:
representações abstratas ou "concretas" sobre a realidade humana
e natural; Ciência: estuda as causas e os efeitos de fenômenos, podendo
classificar-se em: áreas Naturais (Biológica e da Terra), Humanística ou Tecnológica
(Exatas).
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O termo "Iluminismo" foi usado para designar o movimento
artístico-filosófico-científico que surgiu em contradição ao Dogmatismo da
Igreja, no século XVIII. Portanto, o oposto de "... trevas".
-
O termo "objeto" refere-se a algo "material"
ou "abstrato", que é estudado por uma Ciência.
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Milton Santos, geógrafo brasileiro de renome internacional - da
"Escola da Geografia Crítica" (anos 80, 90) -, afirma que
"A natureza morreu!", querendo com isto nos dizer que toda a
superfície terrestre (15) já teve a influência humana, deixando assim de
existir a "primeira natureza", ou natureza "natural"
(primitiva), sendo que esta superfície, hoje, representaria somente a
"segunda natureza", ou natureza "não-natural". Milton
Santos pode ser considerado o "teórico da atualidade e das previsões
futuras", fazendo leituras, críticas e análises de seu mundo e de seu
tempo, preocupado sempre com questões sociais (e com o bem-estar da vida
humana), sobretudo. Reconhecendo neste autor um grande mestre e um dos
maiores intelectuais do Brasil, discordamos, porém, de algumas abordagens
puramente teóricas e simplificadas acerca da realidade concreta que se
verifica. Para nós, a natureza não "morreu"! Tudo é natureza
(numa visão Holística); porém os métodos de investigação da Natureza não
são os mesmos métodos de investigação da Humanidade, enquanto Sociedade.
-
Uma definição de "superfície terrestre" que será
utilizada neste ensaio: "É a totalidade conjuntural da Crosta
Terrestre e regiões pouco profundas (parte da Litosfera), da Troposfera
(parte mais baixa da Atmosfera), e da Biosfera (matéria viva) e dos
elementos abióticos nelas inseridos". Para Emmanuel De Martonne (séc.
XIX), geógrafo físico, "A Geografia Moderna estuda a distribuição à
superfície do globo dos fenômenos físicos, biológicos e humanos, as causas
dessa distribuição e as relações locais desses fenômenos".
Acrescentaríamos, nesta última definição, também o estudo das relações
globais desses fenômenos observados, bem como o das suas consequências,
cuja atuação do cientista procuraria minorá-las.
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Referindo-se ao sociólogo alemão Max Weber (séc. XIX), poder-se-ia
dizer que "o cientista não é neutro, pois cada indivíduo (cientista)
tem suas próprias concepções acerca da realidade (ideologias), interpretando-a
conforme estas mesmas concepções". Isto é o mesmo que "método de
interpretação".
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Não concordamos com o excelente geógrafo brasileiro, Manuel
Correia de Andrade, que enuncia: "Geografia: Ciência da
Sociedade".
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Para o geógrafo brasileiro José William Vesentini, isto representa
um "neokantismo ultrapassado". Concordamos, em parte, com esta
crítica, pois entendemos que a Geografia não se detém no estudo de
diferenciações entre áreas distintas.
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"Na natureza, nada se perde, nada se cria: tudo se transforma!"
(Lavoisier).
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Filosofia do séc. XVII, elaborada inicialmente pelo francês René
Descartes ("cartesianismo" - "Penso. Logo, existo!"),
na qual a razão seria a causa primeira do conhecimento da realidade.
-
Mencionando o filósofo empirista inglês John Locke (séc. XVII).
-
"Só sei que nada sei!", atribuída ao filósofo grego
Sócrates (séc. V - a.C.), demonstra quão ínfimos podemos ser na vastidão
em que estamos incluídos! Tomando-se este "nada" com relação a
"tudo", pensamos que o conhecimento humano aprimora-se na mesma
medida em que descobrimos sempre mais e mais, num ciclo infinito de
possibilidades...
-
Ressaltamos a necessidade da abordagem, conforme Vesentini, de
"Por uma Geografia Crítica na Escola" (título de um de seus
livros).
-
Concepção de Francisco de Assis Mendonça, geógrafo físico
brasileiro, baseada em suas experiências como professor e pesquisador.