Associação dos Geógrafos Brasileiros - AGB Curitiba
Revista Paranaense de Geografia
Número 02 # ISNN - 1413 - 6155 # 1997
2ª Edição - julho/99

 

©Associação dos Geógrafos Brasileiros - seção Curitiba - Permitida a reprodução desde que citada a fonte.

 

NOTA DO AUTOR (a posteriori): Este foi meu primeiro Artigo publicado! A primeira edição saiu impressa, e a segunda no site e em CD (todas idênticas). Fiz uma Errata e uma Atualização deste Artigo alguns anos depois... Mas, como nunca as concluí minuciosamente, também não as publiquei...*

 


 

TEORIAS GEOGRÁFICAS

 

 

Sérgio Cesar de França Fuck Júnior

 

(Aluno de Graduação do Curso de Bacharelado em Geografia, pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Ex-aluno de Graduação do mesmo Curso, e do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, pela Universidade Federal do Paraná - UFPR; Sócio da A.G.B.-São Paulo). Fortaleza, Ceará. (1997)

 

 

 

Através do conhecimento científico geográfico, aliado à filosofia, faz-se neste ensaio

a tentativa de entendimento organizacional e ativo do universo e da Terra, nos

seus aspectos físicos, humanos e biológicos.

 

 

 

A Geografia é uma ciência de difícil definição, cujo objeto de estudo, o espaço

geográfico, é também multi-conceitual. A Geografia é realmente uma ciência? No

que se distingue de outras formas de conhecimento? Por que há dicotomia no seu

estudo?

 

 

 

A Geografia é uma Ciência Humana, dicotomizada no seu estudo - o estudo do espaço

geográfico - em dois ramos: o Humano ("social") e o Físico

("natural"). O homem faz parte da natureza (visão Holística), porém o

seu estudo é diferenciado em relação à esta, pois o ser humano é, ao mesmo

tempo, objeto e agente de transformações, atuando "dialeticamente", e

não "positivamente", neste mundo.

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

 

 

O ser humano é uma forma de vida única em nosso planeta. Desenvolveu uma

inteligência superior às demais formas de vida aqui existentes, ao longo de sua

Evolução (1).

 

 

 

O objetivo de cada homem (2) em particular, e de todos os homens em geral, é a

preservação da vida humana, ou seja, de sua(s) própria(s) vida(s), tentando

garantir a maior longevidade possível (recordemo-nos da lenda medieval da

"fonte da juventude"... E também... O que é a crença na alma e na

reencarnação, senão a busca desesperada pela "vida eterna"?). Assim

sendo, procura garantir a integridade física e moral de seus semelhantes, pois

estaria, em última análise, "preservando" a si próprio. Dentre suas

atividades no planeta, estão as atividades "físicas básicas"

(alimentação ou nutrição, descanso - as verdadeiras "obrigações

biológicas" humanas, que garantem o metabolismo e a sobrevivência! -,

lazer: prática de esportes, passeios, entre outros - aproveitamento do seu

"tempo livre" (3) - locomoção, e "trabalho") e as

atividades "intelectuais", baseadas na consciência, que é a

capacidade da mente humana de pensar (raciocinar, indagar, arguir...), de

sentir (dores e emoções) e de agir (relações humanas ou "físicas",

segundo o seu próprio pensamento) (4).

 

 

 

Satisfeito com suas necessidades "físicas básicas", parte o homem em busca de

conforto, que lhe dará prazer, fruto de sua produção sobre a Terra. Para isto,

lança mão de suas "atividades intelectuais", o que o leva a criar

"ferramentas" para a transformação e aproveitamento de recursos

naturais e humanos. Nisto, passa a consumir também a produção de outros homens,

além de sua própria produção, e o mesmo ocorre com estes outros homens. Assim,

ao longo da história humana, várias formas de organização social efetivaram-se

a partir desta nova necessidade; em busca do conforto, o homem descoletivizou a

propriedade da terra - para melhor usufruir do seu uso -, criou a moeda - para

"trocar" pelos produtos que não fabricava -, instituiu normas sociais

de conduta, ética e moral, e de convivência com os outros homens (casamento,

igreja - por não suportar a idéia de "estar sozinho" no universo,

"cria" deuses e "vida eterna", desde os tempos mais

remotos... -, e demais "instituições sociais"), e desenvolveu

tecnologias de produção (5). Tanto em sociedades tribais, anarquistas,

"comunistas" (6), quanto em sociedades democráticas, as formas

sócio-políticas passam a ser dominadas pelas formas econômicas de produção (7).

No Socialismo, o Estado (8) passa a gerir e a administrar (planejando,

organizando, dirigindo e controlando) a produção - e, por conseguinte, a vida

social -, enquanto que no Capitalismo o Estado basicamente controla esta

produção, em níveis que vão do Liberalismo (não intervenção no Mercado) aos

controles mais rígidos governamentais.

 

 

 

AS FORMAS DE CONHECIMENTO HUMANO

 

 

 

Sabemos que a "realidade concreta" é classificada pelo homem em vários níveis

e de diversas formas, para o seu entendimento sobre o mundo, da maneira que lhe

pareça mais coerente, útil e aprazível, para atingir seus objetivos

específicos. Porém, esta mesma "realidade concreta" é, na verdade,

"indivisível e unitária", o que representa uma visão Holística do

universo. Partindo-se deste pressuposto, classificamos o conhecimento humano em

quatro ramos: senso comum, filosofia, arte e ciência (11). Nas Ciências, este

conhecimento é dividido em: naturais - da terra e biológicas -, exatas e

humanas, sendo a Geografia incluída nesta última.

 

 

 

ORIGEM E HISTÓRIA DA GEOGRAFIA, ENQUANTO CONHECIMENTO "COMUM" E ENQUANTO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

 

 

 

A Geografia era meramente descritiva, ou matemática, na Antiguidade. Egípcios,

gregos, romanos, fenícios, árabes, persas, chineses e aztecas, dentre outros

povos, desenvolviam um conhecimento geográfico "independente" e

diferenciado dos demais, de acordo com as suas próprias necessidades de

entendimento do mundo que os cercava. Descrições de viagens realizadas, de

povos e paisagens observadas nos locais percorridos, e teorizações e

experimentos diversos eram realizados por filósofos, físicos, comerciantes,

entre outros. O mesmo ocorreu durante a Idade Moderna, na qual os povos

ocidentais, que passavam a dominar cultural e economicamente as novas terras

por eles descobertas, esforçavam-se por tentar explicar o que viam.

 

 

 

Durante a Idade Média ("Idade das Trevas" (12)), todo o conhecimento

ocidental era gerado, concentrado e "distribuído" pela Igreja,

causando absurdos filosóficos que se vê até os nossos dias!

 

 

 

Estes períodos constituem a fase do conhecimento geográfico no "senso

comum", pois, até mesmo na Antiguidade Clássica, estavam dispersos dentre

outras formas de conhecimento, e dentre vários objetos de estudo distintos, não

sistematizados.

 

 

 

A Ciência Geográfica começa a surgir somente em fins do século XIX, em torno de

1870, quando os alemães Alexander von Humboldt e Karl Ritter, contemporâneos,

desenvolvem uma sistematização destes conhecimentos geográficos passados e

presentes, dando uma característica própria e exclusiva à Geografia, tentando a

unicidade Humanidade-Natureza, enquanto método de estudo da realidade. Seus

precurssores mais ilustres foram Bernard Varenius (séc. XVII) e Emmanuel Kant

(séc. XVIII).

 

 

 

Logo, surgiram outros ilustres geógrafos europeus, cada qual com suas teorias

científicas, como: Friedrich Ratzel, Haushofer (alemães), Paul Vidal de la

Blache, Elisée Reclus, Max Sorre, Emmanuel De Martonne (franceses), e, mais

recentemente, também cientistas americanos e europeus, como: Richard

Hartshorne, Pierre George, Yves Lacoste, Milton Santos, e outros.

 

 

 

A Geografia estava consolidada como Ciência, com objeto de estudo específico e

métodos de pesquisa e conhecimento apropriados.

 

 

 

A GEOGRAFIA É REALMENTE UMA CIÊNCIA?

 

 

 

CORRENTES FILOSÓFICAS E METODOLOGIAS CIENTÍFICAS NA GEOGRAFIA

 

 

 

Por definição, entende-se "ciência" como "a forma de conhecimento

humano sistematizada (organizada e ordenada, através de métodos minuciosos),

que tem um objeto de estudo (13) específico". Os conhecimentos de

"senso comum", filosofia e arte podem influenciar no conhecimento

científico, porém nunca podem ser determinantes acerca de conclusões sobre o

objeto que está sendo investigado pela ciência. Portanto, a Geografia é uma

Ciência, cujo objeto de estudo é o "espaço geográfico". O

"espaço geográfico" é, ainda, multi-conceitual, pois há várias linhas

de pensamento discordantes entre os geógrafos, neste e em outros aspectos. Os

dois conceitos principais são os seguintes: num deles, entende-se por

"espaço geográfico" aquele espaço "produzido" pelo homem,

em suas relações de produção, ou simplesmente aqueles espaços sobre a Terra

que, de alguma maneira, tenham sofrido a intervenção humana (14). No outro,

"espaço geográfico", ou simplesmente "espaço", seria o

próprio espaço da superfície terrestre, integralmente (defendemos este segundo

conceito). *(Na verdade, na Geografia atual, ambos são "unificados" pelo primeiro conceito!

Ou seja, o "espaço geográfico" só existe COM o Homem).

 

 

 

A Geografia teve e ainda tem, durante o seu desenvolvimento, alguns paradigmas

principais, que norteiam a produção científica dos geógrafos ao longo do tempo.

Partem dos métodos de interpretação da realidade de cada cientista. São eles:

Geografia Tradicional, Positivista, praticada sobretudo até meados deste século

- Determinismo e Possibilismo; Geografia Reegional, Positivista (anos 50) -

considerada como uma "fase de transição"; Geografia Teorética e

Quantitativa, ou "Nova Geografia", Neopositivista, dos anos 50 a 70

do corrente; Geografia Crítica, utilizando-se do Materialismo Histórico

Dialético, ou somente da Dialética, para entender e atuar socialmente no

cotidiano, surgida a partir dos anos 80; e finalmente, a Geografia Humanística,

baseada no homem e em seus aspectos psicológicos, representada por correntes

como o Existencialismo e a Fenomenologia, a partir dos anos 80 - não é

considerada ainda um paradigma "completo". Há outras correntes

filosóficas envolvidas no trabalho geográfico (e científico, em geral), sendo

que a exclusividade de abordagens e de métodos utilizados não é possível, pela

própria natureza humana (16).

 

 

 

Os métodos de pesquisa podem ser: a Dedução (abordagem do geral para o

particular), a Indução (do particular para o geral), a Indução-Dedução, a

própria Dialética e outros, podendo ser combinados ou não.

 

 

 

A IMPORTÂNCIA DA DEFINIÇÃO TEÓRICA À PRÁTICA GEOGRÁFICA

 

 

 

Deste modo, havendo discordâncias "normais" na Geografia, como em qualquer

outro ramo de atividade humana, torna-se importante uma definição sobre a

própria ciência. Ou seja: o que é Geografia? Qual a sua importância? Para que

serve? É um conhecimento relevante para a sociedade e para a própria ciência do

homem?

 

 

 

A Geografia, pensamos nós, é o estudo do espaço geográfico (conforme o segundo

conceito já abordado, neste*). Este estudo refere-se aos aspectos físicos, como

forma (cidades, vulcões, mares...), ambiente - vida e movimentos, localização

(pensamos ser este o principal diferencial da Geografia com relação às

"ciências-irmãs"), e aos aspectos humanos, que seriam as relações da

Humanidade com a Natureza, e as relações entre os homens, em sociedade (17).

Destes aspectos humanos resultam outras ciências, utilizadas em parte pelos

geógrafos, como a Economia, a Sociologia, a Antropologia (Cultural e Física),

entre outras. As ciências que abordam os aspectos físicos do universo só tem

relação com a Geografia enquanto parte do entendimento humano, em sua localização

no espaço ("geográfico" e "sideral"), e nos recursos à vida

humana que podem propiciar (atendendo às suas "necessidades físicas

básicas" e ao seu conforto, material e psicológico).

 

 

 

Sua abrangência é, portanto, vasta, mas o seu objetivo é o de propiciar bem-estar

aos homens, quer por meios de "conhecimento acadêmico puro"

("conhecer o mundo é libertar-se, estar alerta!" - cidadania - é uma

forma de transcendência psicológica), quer por meios de "educação para a

vida em sociedade" (não coercitiva, sequer punitiva - "ensinar a

viver" em paz, com amor e alegria - ética, moral), quer por meios de atuações

políticas efetivas.

 

 

 

A DICOTOMIA NA GEOGRAFIA: GEOGRAFIA FÍSICA/HUMANA; GEOGRAFIA GERAL/REGIONAL; OUTRAS ABORDAGENS

 

 

 

Um problema básico conceitual que acompanha a Ciência Geográfica desde o seu

nascimento é a dicotomia existente entre os aspectos físicos e os aspectos

humanos do espaço geográfico. Embora muito já se tenha tentado, esta dicotomia

não foi satisfatoriamente ainda desfeita, ficando mesmo estas tentativas apenas

no campo da teoria, não efetivando uma prática unicionista na Geografia.

 

 

 

Para os geógrafos "clássicos", como Richard Hartshorne, a Geografia seria

uma ciência de síntese das relações homem/meio. Seria, ainda, de abordagem

regional, de diferenciação de áreas (corológica), não cabendo ao geógrafo

distinguir entre fatos físicos ou humanos (18).

 

 

 

Atualmente, considera-se a Geografia como uma "ciência de relações", buscando

integrar conhecimentos científicos de outras áreas, para o estudo de seu objeto

específico (e distinto), que é o espaço geográfico. Suas tendências temáticas

são: o "ambientalismo" - dos sistemas naturais, "a ciência dos

lugares" (embora influenciados pelo homem); e a "ciência social"

- a social-economia (o homem criando o espaço). Destas tendências temáticas,

retiram-se as abordagens físicas ou humanas do real.

 

 

 

Concordamos com o geógrafo brasileiro Vesentini, quando afirma que existe uma dicotomia

estrutural, que não é exclusiva da Geografia, separando-a em "física"

e "humana". Esta dicotomia se perpetuaria à medida em que as

especializações se aprofundassem. Em termos de sistemas econômico-sociais, a

clivagem "humanidade/natureza" permaneceria, no Capitalismo ou no

Comunismo, sendo que esta realidade é superior ao sistema de vida adotado pela

sociedade. Ainda, para este autor (Vesentini), a dicotomia Geografia Geral x

Geografia Regional não existiria, sendo esta última apenas uma abordagem

específica da primeira. Novamente, concordamos com este geógrafo.

 

 

 

TENTATIVAS DE UNICIDADE: VISÃO HOLÍSTICA; OUTRAS VISÕES

 

 

 

Com o amadurecimento do Capitalismo, no século XVIII, incrementado pela Revolução

Industrial européia, o homem passou a perceber a natureza como fonte de

recursos para a sua própria existência. Desenvolveu a técnica, para o melhor

aproveitamento possível destes recursos, buscando sempre o conforto, em última

análise. Porém, a consciência ecológica de que "a Terra é um organismo

vivo!", e como tal precisa ser preservada e conservada, na medida do

possível, só lhe foi despertada a partir da década de 80 deste nosso século! O

homem já explorou demasiadamente os recursos de seu planeta, de tal sorte que

mudou aspectos físicos "naturais", criando novos processos e

acelerando ou retardando outros já existentes. Com esta "crise

ecológica" que ele próprio criou, em nome do progresso, gerando um

desequilíbrio "Homem x Meio", surgiu a visão Holística do universo,

na qual "tudo é natureza!"; portanto, também fazemos parte deste

"tudo". A unicidade geográfica estaria na natureza física e humana se

recriando (19) - nas relações naturais contidas ou não nas relações de produção

(humanas) - e na natureza social se reproduzindo - através das relações de

produção.

 

 

 

Elisée Reclus, no início deste século, não distinguia aspectos físicos e humanos na

Geografia, pois o estudo da natureza teria por objetivo facilitar a compreensão

da evolução da humanidade. Seguia o pensamento marxista de sociedade de classes

sociais, de luta constante entre dominadores e dominados. Concordamos com seu

posicionamento, especialmente na afirmação de que há uma tendência ao

aperfeiçoamento individual e social em função do aperfeiçoamento do homem (a

tecnologia representa parte deste pensamento - desenvolvimento técnico; o

desenvolvimento pessoal e educacional, o "humanismo fraterno", seria

a outra parte). Discordamos do Racionalismo (20), em seu princípio de que o homem

é um ser dotado de "bondade", sendo a sociedade capaz de corrompê-lo.

 

 

 

O "REAL" SUPERA O "TEÓRICO": EMPIRISMO, EXISTENCIALISMO E PRÁTICA SOCIAL ATUANTE DO CIENTISTA GEÓGRAFO ("NÃO-NEUTRALIDADE")

 

 

 

No Empirismo (séc. XVII) - que teve uma pequena influência do Racionalismo, embora

antagônicos -, a mente humana seria "uma tábula rasa onde a experiência

escreve" (21). Ou seja, todo o conhecimento deve ser baseado na

comprovação, podendo mesmo esta ser de ordem apenas "racional" -

enquanto verdade incontestável -, ou por experimentações práticas. Seguimos

esta linha de raciocínio, com a ressalva "cética" de acreditarmos que

toda a verdade do universo dificilmente será apreendida pelo homem, pois não

conhecemos tudo, e deve haver coisas que sequer imaginamos existirem... (22).

 

 

 

O Humanismo, mais precisamente o Existencialismo, nos ensina que o homem é o ser

que, dotado de inteligência superior, pode designar os destinos de sua própria

existência, não dependendo da nada, pois nada é superior a ele. Ressalve-se

que, para nós, "o aspecto físico", o nosso planeta Terra, é o

condicionante para que a existência humana possa se efetivar. Portanto, podemos

sim definir nosso próprio futuro, desde que respeitadas as condições ambientais

que permitam a perpetuação de nossas vidas (e atos, e idéias!).

 

 

 

Partindo-se desses pressupostos, acreditamos que o geógrafo deva ser um cientista

"não-neutro", ao contrário do pensamento positivista, que prega uma

neutralidade científica, limitando-se o pesquisador à simples observação do

fato em questão.

 

 

 

QUAL O PAPEL DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA NO MUNDO ATUAL?

 

 

 

CAMPOS DE TRABALHO PARA O GEÓGRAFO - A NÃO "INFERIORIDADE" PERANTE OUTROS PROFISSIONAIS; ESPECIALIZAÇÕES

 

 

 

Então, o papel do geógrafo no mundo atual seria o da intervenção política nesta

realidade concreta cotidiana, por meios diversos, mas procurando exercer sua

influência de pensamento nos desígnios da vida social. Esta Geografia Crítica

permite a atuação do profissional na política, propriamente, pois entendemos

que um "cientista humano", como o geógrafo, tem amplas possibilidades

de efetivar o seu conhecimento social e ambiental para a realização de

benefícios à toda a sociedade.

 

 

 

Além da política, os campos de trabalho que se apresentam a este profissional são o

do ensino (23), e o da técnica, como bacharél. Porém, apesar de sua visão

globalizante acerca dos acontecimentos do mundo, o geógrafo deve se

especializar em determinada área, enquanto bacharél, para ter uma atuação

condizente com as expectativas do mercado de trabalho (e com as necessidades da

sociedade). O que se vê hoje é a ocupação, por engenheiros, agrônomos,

ecólogos, geólogos e outros, de áreas e funções que poderiam ser essencialmente

desempenhadas por geógrafos.

 

 

 

CONCLUSÃO

 

 

 

A questão central da Geografia é esta: "Por que é que as distribuições

espaciais estão estruturadas da maneira como estão?".

 

 

 

Com o conhecimento histórico das teorias geográficas, podemos perceber como o homem

entende o seu universo de diversas maneiras distintas, de acordo com suas

concepções pessoais (e suas próprias condições para tal), no transcorrer da

história da humanidade. Aplicando-se a estes conhecimentos adquiridos novos

conhecimentos, pode-se tentar facilitar a vida humana, em termos de convívio

social, buscando a felicidade de cada um, individualmente. Por isso, entendemos

ser a Geografia uma Ciência Humana, dicotomizada no seu estudo - o estudo do

espaço geográfico - em dois ramos: o Humano ("social") e o Físico

("natural"). O homem faz parte da natureza (visão holística), porém o

seu estudo é diferenciado em relação à esta, pois o ser humano é, ao mesmo

tempo, objeto e agente de transformações, atuando "dialeticamente", e

não "positivamente", neste mundo. Ou seja, utilizamos métodos de

apreensão da realidade distintos - dialética para o estudo da humanidade;

sistemas e outros para o estudo da natureza (24) -, mas jamais podemos

fracionar o "todo real". Embora a realidade concreta seja

inexpugnável, o homem a sistematiza para que a mesma possa ser por ele

analisada. Então, a observação, a percepção, a análise e a crítica à esta

realidade são também funções da ciência, além de outros campos do conhecimento.

 

 

 

O conhecimento geográfico é sinônimo de conhecimento do mundo, do planeta Terra,

de suas intrínsecas relações siderais, terrenas e biológicas, sendo o ser

humano o agente alvo desse conhecimento, enquanto parte da biosfera, atuando

com relação aos outros homens e ao seu ambiente físico de vida.

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

 

ANDRADE, Manuel Correia de. GEOGRAFIA: CIÊNCIA DA SOCIEDADE (UMA INTRODUÇÃO À ANÁLISE DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO). São Paulo, Ed.

Atlas, 1987.

 

CHRISTOFOLETTI, Antônio. PERSPECTIVAS DA GEOGRAFIA. São Paulo, Ed. DIFEL, 1982.

 

DE DECCA, Edgar Salvadori. O NASCIMENTO DAS FÁBRICAS. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1982.

 

GORENDER, Jacob. A BURGUESIA BRASILEIRA. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1981.

 

MARTIN, André Roberto. FRONTEIRAS E NAÇÕES. São Paulo, Ed. Contexto, 1992.

 

MENDONÇA, Francisco de Assis. GEOGRAFIA FÍSICA: CIÊNCIA HUMANA?. São Paulo, Ed. Contexto, 1989.

 

MENDONÇA, Francisco de Assis. GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE. São Paulo, Ed. Contexto, 1993. 

 

MORAES, Antônio Carlos Robert. GEOGRAFIA - PEQUENA HISTÓRIA CRÍTICA. São Paulo, Ed. HUCITEC, 1983.

 

MOREIRA, Ruy. O QUE É GEOGRAFIA. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1985.

 

SILVA, Lenyra Rique da. A NATUREZA CONTRADITÓRIA DO ESPAÇO GEOGRÁFICO. São Paulo, Ed. Contexto, 1994.

 

SODRÉ, Nélson Werneck. INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA (GEOGRAFIA E IDEOLOGIA). Petrópolis-RJ, Ed. Vozes, 1976. 

 

VESENTINI, José William. GEOGRAFIA: NATUREZA E SOCIEDADE. São Paulo, Ed. Contexto, 1994.

 

ALMANAQUE ABRIL 96. São Paulo, Ed. Abril, 1996.

  

 

    GLOSSÁRIO

     

     

  1. Evolução (Evolucionismo): Teoria desenvolvida por Spencer (séc.

         XVIII), segundo a qual os seres vivos evoluiriam ao longo do tempo na

         Terra, transformando-se para se adaptarem às condições ambientais, que se

         alteram. "Origem das Espécies" e "Seleção Natural" são

         decorrentes desta primeira teoria, desenvolvidas por Charles Darwin (séc.

         XIX). O termo "evolução" pode também ser aplicado às questões

         astronômicas, geológicas, etc.

     

  2. O termo "homem" será aqui designado para referir-se a

         "ser humano".

     
  1. Tempo livre é o tempo disponível ao homem, após o cumprimento de

         suas necessidades básicas, como nutrição, descanso, lazer e trabalho.

     

  1. Segundo o sociólogo francês Émile Durkheim (séc. XIX), o ser humano

         teria as capacidades básicas de agir, sentir e pensar, constituindo-se

         este conjunto de atos coletivos um "fato social", que

        determinaria a vida em sociedade de cada indivíduo, em particular. Foi o

         "teórico das Instituições". (Uma visão Positivista (9) de

         sociedade).

     

  2. Algumas das fases históricas ocidentais podem nos demonstrar isto

         (Feudalismo, Mercantilismo, Capitalismo...).

     

  3. Sociedades nas quais a coletividade funcionaria como um organismo

         único, "biológico", baseadas na fraternidade e cooperação mútuas.

         Porém, como afirmou o "Iluminista" (12) Hobbes (séc. XVIII),

         "O homem é lobo do homem!", e sempre haverá exploradores e

         explorados (e "lutas de classes"), quer no Capitalismo, quer em

        qualquer outra forma de organização social. O Comunismo e o Anarquismo,

         portanto, são "utópicos" enquanto formas de vida do

         "homem-social". Evidentemente que a visão de "sociedade

         harmônica e unitária", apregoada pelo Capitalismo, também o é. Estas

         visões Positivistas, em ambos os casos, representam as ideologias que cada

         linha de pensamento tenta seguir e implementar no âmago das sociedades

         (ocorrendo o mesmo com questões político-religiosas, entre outras).

       

  4. O sociólogo alemão Karl Marx (séc. XIX), que desenvolveu o

         "Materialismo Histórico Dialético" (10), criticava os conflitos

         gerados pelo Capitalismo recém-surgido na Europa, no qual a Economia

         dominaria a Sociedade, através da propriedade privada dos meios de

         produção, vislumbrando uma sociedade sem classes, e, portanto, sem

         conflitos, onde as questões sociais seriam mais justamente resolvidas.

     

  5. Estado: instituição constituída e legitimada que representa um

         determinado país.

     

  6. Positivismo: corrente de pensamento que entende a evolução humana

         linearmente como: primitiva, teológica e científica, sendo esta última a

         forma correta e ideal de postura do homem frente ao mundo. Conceitos como

         "ordem e progresso" também são "positivistas", levando

         à formas arbitrárias de "dominação" social. Normas e leis são

         essenciais à vida em sociedade, porém a liberdade individual deve ser a

         prioridade entre os homens.

     

  7. Materialismo Histórico Dialético: corrente filosófica que entende

         as relações humanas como em constante renovação, através do dualismo

         intrínseco em nossas atividades e pensamentos, o que nos levaria a

         mudanças qualitativas e quantitativas, ao longo do tempo (Dialética), e

         baseadas nas relações de produção humanas (Materialismo).

     

  8. Senso Comum: pensamentos do cotidiano, "populares", e

         herdados dos antepassados; (também): bom-senso. Filosofia: reflexões sobre

         as verdades e as finalidades primeiras das coisas, no universo. Arte:

         representações abstratas ou "concretas" sobre a realidade humana

         e natural; Ciência: estuda as causas e os efeitos de fenômenos, podendo

         classificar-se em: áreas Naturais (Biológica e da Terra), Humanística ou Tecnológica

         (Exatas).

     

  9. O termo "Iluminismo" foi usado para designar o movimento

         artístico-filosófico-científico que surgiu em contradição ao Dogmatismo da

         Igreja, no século XVIII. Portanto, o oposto de "... trevas".

     

  10. O termo "objeto" refere-se a algo "material"

         ou "abstrato", que é estudado por uma Ciência.

     

  11. Milton Santos, geógrafo brasileiro de renome internacional - da

         "Escola da Geografia Crítica" (anos 80, 90) -, afirma que

         "A natureza morreu!", querendo com isto nos dizer que toda a

         superfície terrestre (15) já teve a influência humana, deixando assim de

         existir a "primeira natureza", ou natureza "natural"

         (primitiva), sendo que esta superfície, hoje, representaria somente a

         "segunda natureza", ou natureza "não-natural". Milton

         Santos pode ser considerado o "teórico da atualidade e das previsões

         futuras", fazendo leituras, críticas e análises de seu mundo e de seu

         tempo, preocupado sempre com questões sociais (e com o bem-estar da vida

         humana), sobretudo. Reconhecendo neste autor um grande mestre e um dos

         maiores intelectuais do Brasil, discordamos, porém, de algumas abordagens

         puramente teóricas e simplificadas acerca da realidade concreta que se

         verifica. Para nós, a natureza não "morreu"! Tudo é natureza

         (numa visão Holística); porém os métodos de investigação da Natureza não

         são os mesmos métodos de investigação da Humanidade, enquanto Sociedade.

      

  12. Uma definição de "superfície terrestre" que será

         utilizada neste ensaio: "É a totalidade conjuntural da Crosta

         Terrestre e regiões pouco profundas (parte da Litosfera), da Troposfera

         (parte mais baixa da Atmosfera), e da Biosfera (matéria viva) e dos

         elementos abióticos nelas inseridos". Para Emmanuel De Martonne (séc.

         XIX), geógrafo físico, "A Geografia Moderna estuda a distribuição à

         superfície do globo dos fenômenos físicos, biológicos e humanos, as causas

         dessa distribuição e as relações locais desses fenômenos".

         Acrescentaríamos, nesta última definição, também o estudo das relações

         globais desses fenômenos observados, bem como o das suas consequências,

         cuja atuação do cientista procuraria minorá-las.

     

  13. Referindo-se ao sociólogo alemão Max Weber (séc. XIX), poder-se-ia

         dizer que "o cientista não é neutro, pois cada indivíduo (cientista)

         tem suas próprias concepções acerca da realidade (ideologias), interpretando-a

         conforme estas mesmas concepções". Isto é o mesmo que "método de

         interpretação".

     

  14. Não concordamos com o excelente geógrafo brasileiro, Manuel

         Correia de Andrade, que enuncia: "Geografia: Ciência da

         Sociedade".

     

  15. Para o geógrafo brasileiro José William Vesentini, isto representa

         um "neokantismo ultrapassado". Concordamos, em parte, com esta

         crítica, pois entendemos que a Geografia não se detém no estudo de

         diferenciações entre áreas distintas.

     

  16. "Na natureza, nada se perde, nada se cria: tudo se transforma!"

         (Lavoisier).

     

  17. Filosofia do séc. XVII, elaborada inicialmente pelo francês René

         Descartes ("cartesianismo" - "Penso. Logo, existo!"),

         na qual a razão seria a causa primeira do conhecimento da realidade.

      

  18. Mencionando o filósofo empirista inglês John Locke (séc. XVII).

     

  19. "Só sei que nada sei!", atribuída ao filósofo grego

         Sócrates (séc. V - a.C.), demonstra quão ínfimos podemos ser na vastidão

         em que estamos incluídos! Tomando-se este "nada" com relação a

         "tudo", pensamos que o conhecimento humano aprimora-se na mesma

         medida em que descobrimos sempre mais e mais, num ciclo infinito de

         possibilidades...

     

  20. Ressaltamos a necessidade da abordagem, conforme Vesentini, de

         "Por uma Geografia Crítica na Escola" (título de um de seus

         livros).

     

  21. Concepção de Francisco de Assis Mendonça, geógrafo físico

         brasileiro, baseada em suas experiências como professor e pesquisador.

 

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